Sindicato acompanhou reunião aberta do Conselho do Instituto de Artes pela ocupação do prédio do ICBS
A ADUFRGS-Sindical apoia a reivindicação do Instituto de Artes da UFRGS, que demanda o cumprimento de um acordo histórico que prevê a ocupação de 5.000m² do prédio da antiga Faculdade de Medicina, a partir da desocupação do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS). Na manhã de segunda-feira, 28, o Sindicato acompanhou a reunião aberta do Conselho do Instituto de Artes realizada em frente ao prédio do ICBS, com a presença da direção e de membros do Conselho da Unidade, além de estudantes de diferentes cursos da instituição. A demanda surge do fato de que o ICBS já teve o novo prédio inaugurado e antes que o Instituto de Artes pudesse ocupar o espaço, que é algo urgente devido às precárias condições dos espaços atuais, estão acontecendo ocupações da área por setores administrativos.
O ato, convocado pelo Conselho da Unidade, foi uma reunião aberta em formato de café da manhã, em frente à entrada do ICBS, no campus central da UFRGS, com a presença de professores, conselheiros e estudantes. O diretor do Instituto de Artes, professor Raimundo Cruz, chamou a atenção para a necessidade de dar mais visibilidade à pauta do IA. “Esse evento é um ato político e simbólico, que representa, dentro da universidade, uma luta histórica por espaços. Por melhoria e qualificação dos nossos espaços. Tendo em vista a precarização dos locais que hoje ocupamos e das necessidades de uma grande comunidade que precisa de sala de aula, de atelier, de salas com necessidades específicas para dar conta dos nossos trabalhos que envolvem o ensino, a pesquisa e a extensão, que envolvem um mundo de criação que revela o papel das artes na universidade e na sociedade”, explicou o diretor.
“O acordo histórico é hoje nossa principal reivindicação, para que seja cumprido o que foi acordado entre a comunidade das artes e o Conselho do Instituto em vários momentos. Para que o IA UFRGS possa ampliar suas atividades e cumprir esse papel importante das artes dentro da universidade e fora dela”, completou Cruz.
Além do diretor, outros representantes da comunidade acadêmica também se pronunciaram, e foi realizado um abraço simbólico ao ICBS, com a colocação de uma faixa pela ocupação do prédio. Depois, o grupo foi até a Reitoria da UFRGS para solicitar audiência com o reitor, que não aceitou receber o grupo no dia e marcou audiência apenas para sexta-feira, dia 1º, às 14h30, com a presença somente do diretor do IA. O ato foi encerrado com uma foto coletiva em frente à fachada histórica da antiga Faculdade de Medicina.
A ADUFRGS-Sindical reforça que a Universidade deve priorizar os espaços destinados ao ensino, à sala de aula, como destacou o diretor Tesoureiro do Sindicato, professor Eduardo Rolim. “A UFRGS tem que dar prioridade para o ensino. Ensino é a atividade-fim da nossa universidade, não há nenhum sentido em ficar transferindo salas administrativas para o prédio do ICBS quando o do Instituto de Artes está caindo, como todo mundo sabe. Entendemos que é fundamental e estratégico que a universidade se preocupe com a graduação, com os estudantes, com a qualidade do ensino. Nesse sentido, nós apoiamos firmemente a transferência para o prédio da antiga Faculdade de Medicina”, disse o diretor.
Acesso negado
A forma como os professores e alunos do Instituto de Artes presentes à reunião aberta desta segunda foram tratados também é condenada pela ADUFRGS-Sindical. Os membros da comunidade não tiveram autorização para entrar no ICBS, nem na Reitoria. Tanto o ato quanto a resposta sobre a reunião de sexta ocorreram apenas do lado de fora dos prédios.
Depois de serem impedidos de entrar na Reitoria, o chefe de gabinete da UFRGS, Maurício Viégas da Silva, foi ao encontro do diretor do Instituto de Artes na frente do prédio, onde informou que o reitor irá recebê-lo na próxima sexta-feira à tarde (a reunião está marcada para 14h30min, mas a partir das 13h30min haverá concentração de estudantes e professores pré-reunião). A presença de membros do Conselho da Unidade para a reunião, solicitada pela direção do IA, não foi aceita.
Professores destacam papel das artes e demanda histórica por espaço
Confira depoimentos de professores presentes à reunião aberta:
Círio Simon, ex-diretor do Instituto de Artes, falou sobre o histórico que envolve a instituição e a Faculdade de Medicina. “A origem começa com Olinto de Oliveira, presidente do Instituto de Artes e diretor da Faculdade de Medicina. Ele foi quem lançou a pedra fundamental deste prédio aqui. Depois, a Medicina sempre teve um apoio muito forte do Instituto de Artes. Sarmento Leite, o próprio Olinto, Mário Totta, foram personagens fundamentais da Medicina para garantir a autonomia das artes. Arte é completamente diferente de cultura. Não queremos diversão, festa, queremos ensino, aprendizagem de arte. E ela necessita de espaço físico. Esse espaço físico aqui é adequado para toda a gama de ensino possível”, afirmou o professor.
Simon também destacou a importância das artes e o caráter único da universidade pública. “Só as universidades públicas têm essa coragem de manter uma instituição de arte. É a única escola superior que temos no Rio Grande do Sul. As outras entidades não mantêm a arte porque é quase impossível garantir essa verba e esse espaço físico. E não tem o retorno financeiro imediato. O retorno da arte é a permanência dessa civilização e as grandes civilizações se conhecem pela sua arte”, finalizou.
Lucia Becker Carpena, professora do departamento de Música e ex-diretora do IA UFRGS, lembrou que a promessa é antiga e está registrada em ofício de 2009. “Estamos aqui para relembrar esse compromisso. O Instituto é uma usina de promoção de cultura e arte do Rio Grande do Sul. A nossa proposta é de manutenção do prédio da Senhor dos Passos e da general Vitorino, com essa expansão significativa e necessária”, disse a professora.
Jéssica Becker, chefe do departamento de Artes Visuais, destacou as condições enfrentadas pelo IA atualmente. “A situação hoje do departamento é de uma deficiência enorme de salas. Para o próximo semestre nos faltam salas para 15 turmas, sem falar nos ateliês, que precisariam ser grandes para abrigar áreas importantes da cerâmica e da escultura. Além disso, estamos convivendo com uma infestação de escorpiões amarelos, que podem levar à morte”, alertou a professora, que pontuou ainda a precariedade das instalações elétricas e a ocorrência de inundações em dias de chuvas. Jéssica complementou que a pandemia torna necessário maior espaçamento e distribuição de alunos, exigindo mais salas de aula.
Rodrigo Nuñez, professor de cerâmica no Instituto de Artes, recordou que a estrutura é a mesma desde o seu nascimento, que não foi acompanhada com o tempo, mesmo com toda a sua importância e representatividade. “A demanda foi aumentando com a promessa de que iríamos ganhar um espaço maior. O espaço é essencial para as artes, que ocupam um lugar dentro da universidade de representação não só dentro dela como na sociedade do Rio Grande do Sul, com formação de músicos, atores, artistas, atrizes, somos responsáveis pela formação de profissionais em todo o estado. Boa parte deles é formada no Instituto de Artes. Chega de deixar as graduações de arte, música, teatro escanteadas como algo menor dentro da universidade”, protestou.
Paulo Gomes, professor e membro do Conselho da Unidade do IA UFRGS, afirmou que a questão se trata de direito adquirido. “Essa reivindicação é antiga para cumprimento de um direito adquirido. Desde a gestão da professora Wrana foi para o Conselho Universitário e isso foi aprovado. Nosso prédio é da década de 1940, construído para acomodar 350 alunos, e nossa população hoje é de mais de 1500, é absolutamente inviável continuar nesse esquema”, manifestou o professor.
Documento de 2009 registra compromisso da expansão do IA para o ICBS.