ADUFRGS-Sindical repudia extinção da linha D43 sem diálogo com a comunidade universitária

A ADUFRGS-Sindical repudia a extinção da linha de transporte público D43, da empresa Carris, divulgada pela Prefeitura de Porto Alegre, e que entrou em vigor nesta segunda-feira, 4. (Veja aqui a divulgação da prefeitura.) O Sindicato lamenta que a medida tenha sido tomada sem diálogo com a comunidade universitária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que utiliza a linha para deslocamento entre o Campus Central e o Campus do Vale.

Alunos, professores e funcionários temem pelo aumento do tempo de intervalo, redução de horários e consequente impossibilidade de se fazer presente em aulas realizadas nos diferentes campi em tempo hábil.  

O vice-presidente da ADUFRGS-Sindical, professor Darci Campani, justifica a preocupação do Sindicato com a extinção da linha. “Há muitos professores e alunos que fazem aulas em um campus e logo depois precisam estar em outro. A mudança pode inviabilizar essas aulas, com um trajeto mais longo, já que a linha D43 era direta, tinha menos paradas”, explica, acrescentando que a mudança também afeta quem estuda no Vale e realiza estágios na região central. O sindicalista também critica o fato da prefeitura não ter conversado com a comunidade, que vem aumentando ao longo dos anos. “O Campus do Vale, na prática, é uma pequena cidade. A população é maior que a de muitas cidades”, alerta.

Além da retirada de circulação da linha D43, há preocupação com a privatização da empresa Carris, aprovada na Câmara (veja aqui) e sancionada pelo prefeito Sebastião Melo (veja aqui) ainda em 2021 e a repercussão no atendimento às comunidades, como destaca o diretor Tesoureiro da ADUFRGS-Sindical, professor Eduardo Rolim. “A reestruturação das linhas é a primeira amostra do que virá com a privatização da Carris”, alerta. “Trabalha-se apenas com a lógica dos serviços, sem levar em conta a qualidade desses serviços”, completa.

A extinção da linha é justificada pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que afirma que irá compensar com a reestruturação das linhas 343 e 353, com novas viagens e redução de tempo. “A duração das viagens das linhas não diretas era de 54 minutos antes do corredor exclusivo, e passaram a ser de 42 minutos, semelhante ao da linha direta, de 41 minutos. Com isso, deixou de ser necessária uma linha direta no itinerário, o que possibilitou ampliar as viagens das linhas com o mesmo destino”, diz a prefeitura. 

Ocorre que a extinção acontece justamente com o retorno das aulas presenciais na universidade, e o temor é de que essa compensação não aconteça. O retorno presencial é gradativo, portanto o número de pessoas circulando tende a aumentar. Além disso, a linha também atende a comunidade acadêmica da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (PUC-RS).

Outra mudança é que a partir desta segunda, a linha 343 passa a atender a avenida Osvaldo Aranha em ambos os sentidos, com oito viagens a mais por direção, e a linha 353 atende a avenida João Pessoa em ambos os sentidos, com 14 viagens a mais por trajeto.

A professora Luciana Neves Nunes, do Departamento de Estatística da UFRGS e filiada da ADUFRGS-Sindical, é uma das usuárias da linha D43. “O Instituto de Matemática e Estatística fica situado no Campus do Vale, por isso a suspensão da linha D43 me afeta diretamente por ser uma usuária de ônibus. Faz 11 anos que minha família optou por não ter carro e utilizamos transporte público de Porto Alegre”, diz a professora, destacando a opção por um deslocamento mais sustentável.

Ela também afirma ter testemunhado pessoas na parada esperando o D43, entre 7h e 8h da manhã e ver vários veículos da linha superlotados. “Este episódio aconteceu várias vezes na parada em frente ao Hospital de Pronto Socorro, na Osvaldo Aranha. O D43 já saía lotado do Centro e esse impacto já começa aí. É uma linha que transporta muitos passageiros e passageiras e atende estudantes da PUC, da UFRGS e população em geral”, preocupa-se a docente, que relata ver três filas de espera no campus, considerando que o atendimento já era inadequado antes mesmo da reestruturação.

O contexto da pandemia também foi lembrado pela docente. “A suspensão desta linha vai prejudicar muito a qualidade de vida da comunidade da UFRGS. Todos os usuários e usuárias de ônibus sofrerão muito. Quem tomou essa decisão nunca precisou fazer essa viagem de um campus para o outro. É muito triste e frustrante essa decisão de suspender a linha D43, justamente agora que estamos preparando o retorno presencial na Universidade pós-pandemia, tendo que lidar com mais esse problema. Esse descaso afeta o dia a dia do trabalhador, trabalhadora e estudantes”, desabafa a professora. 

Os estudantes também estão mobilizados: diferentes representações estudantis se reuniram e lançaram um abaixo-assinado (clique aqui) e realizarão ato na quinta-feira, 7 de abril, às 18h, em frente à Prefeitura, contra o fim da linha D43 e em defesa do transporte público de Porto Alegre. 

Na terça-feira, 5, às 14h30min, a ADUFRGS-Sindical participa da reunião da Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Pública (CEDECONDH) da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, que vai tratar da crise do transporte público da Capital. 

Foto: Alex Rocha/PMPA