Com profunda tristeza, familiares e a comunidade universitária despediram-se do professor Clovis Carlos Carraro, falecido na madrugada do dia 24 de dezembro de 2022.
O professor Carraro foi um dos grandes pioneiros das geociências no sul do Brasil. Suas contribuições são vastas, e vão desde a ciência até a construção institucional. Para, além disso, nutriu em sua carreira o espírito de comunidade do conhecimento como poucos cientistas fizeram e sem dúvida foi uma das pessoas mais queridas e ínclitas que tivemos o privilégio de conviver.
Esteve na vanguarda científica de sua época. O que podemos verificar por sua formação, que acompanhou desde o início o desenvolvimento tecnológico advindo da corrida espacial dos anos de 1960. O professor Carraro graduou-se em Engenharia de Minas e Metalurgia pela UFRGS em 1956, e posteriormente buscou sua especialização em Topography, Geodesy, Cartography, and Photogrammetry pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), em 1966. Realizou seu mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em 1975, sendo um pioneiro na área de Sensoriamento Remoto em nosso país.
De forma incansável, buscou ampliar suas já variadas expertises especializando-se em Image Processing for Remote Sensing Applications no importante Joint Research Centre, um centro de conhecimento e ciência da Comissão Europeia (1984). Também buscou uma especialização inovadora em Ensino de Geociências no Nível Superior, realizada na Universidade Estadual de Campinas, em1987. Doutorou-se em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2003.
Seu nome comparece notavelmente ao lado da palavra inovação quando lemos a história de nossas instituições acadêmicas e de suas disciplinas científicas. Ele foi um dos fundadores do Instituto de Geociências, tendo sido um de seus mais importantes diretores, de 1988 a 1991. Ele trouxe para administração desse instituto o espírito democrático e aberto, competente e inteligente. Fundou o Departamento de Geodésia e ampliou seu escopo ao implantar o Sensoriamento Remoto, sendo um dos importantes centros de pesquisa e ensino nessa área no Brasil. Nesse compasso, foi protagonista na construção e implantação do Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM), que foi criado na UFRGS, em 1988, junto com o Governo do Estado do Rio grande do Sul.
Entusiasta inconteste das áreas de Topografia e Geodésia criou a inovadora disciplina de Trabalho de Campo em Topografia de Minas, atividade realizada principalmente nas Minas do Camaquã. Várias gerações de estudantes de Geologia e Topografia de Minas foram por ele alfabetizados nessas disciplinas. Posteriormente, junto com o Professor Francisco Magro, criou, em 1995, o curso de Engenharia Cartográfica, atualmente denominado de Engenharia Cartográfica e Agrimensura.
O legado científico e técnico deste Grande Mestre dos Mestres é imenso. Ele tinha grande competência para elaborar mapas. Um dos mais completos mapas geológicos e cartograficamente impecável foi realizado por ele em coautoria com o Professor Mauricio Ribeiro. Trata-se do Geotectonic Map of the Caçapava do Sul Region, publicado em 1971, onde comparece pela primeira vez o tema geotectônico em mapas regionais. Posteriormente, em 1974, coordenou a edição do impressionante Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Sul, cuja cartografia chama atenção pela consistência de sua linguagem e apurada estética. Além disso, ele foi um dos coordenadores do renomado Atlas Ambiental de Porto Alegre, publicado em 1998, tendo sido seu editor de Sensoriamento Remoto e coeditor de cartografia. Essa obra recebeu vários prêmios internacionais, entre os quais o reconhecimento da ONU-Habitat, tendo inspirado mais de 60 cidades em todo o mundo que publicaram seus Atlas Ambientais.
O professor Carraro era sempre atento e muito dedicado aos seus estudantes. Centenas tiveram o privilégio de assistir suas aulas. Ele foi professor da UFRGS de 1959 a 2004, quando se aposentou ao completar 70 anos. Por todo seu empenho na educação e na formação profissional, ele é também reconhecido como um dos nossos Grandes Mestres dos Mestres da UFRGS.
Além de seus inúmeros legados institucionais, e no ensino e na pesquisa, ele foi exemplo ímpar de pessoa notável e íntegra, praticando sua vida acadêmica de forma humilde, corajosa e sempre perseverante em seus projetos protagônicos. Não por acaso, ele era uma pessoa querida por todos e todas e agora ficará para sempre em nossas mentes e corações como um notável grande mestre que tivemos o privilégio de conviver e que recordaremos sempre com carinho.
André Mexias
Rualdo Menegat
Iran Correa