Foi na Segunda Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada em 1910, em Copenhague, que se instituiu o Dia Internacional da Mulher como o principal dia de luta pelos direitos das mulheres. Direitos simples, como o de votar, o de frequentar escolas e universidades, o de exercer a profissão desejada, o de poder casar-se por vontade própria, o de poder se divorciar, o de receber a herança de direito, o de participar de movimentos políticos e sindicais… simples, não? Óbvios até.
Mas nossas sociedades (e digo no plural porque são muitas as sociedades espalhadas pelo mundo) não são óbvias, tampouco justas.
Até hoje, em pleno século XXI, precisamos lutar dobrado para chegar aonde quisermos, pois os obstáculos que nossa sociedade, estruturalmente machista, nos impõe, nos exige de tudo: precisamos ser bonitas, inteligentes, práticas, rápidas, atualizadas, ligadas, dispostas, solícitas, amáveis, sorridentes, depiladas… Mas atenção! Não podemos ser bonitas e atraentes demais porque podemos ser mal interpretadas, julgadas e estupradas. Também não é de bom tom que nossa inteligência supere a do parceiro ou a do colega… Se somos práticas demais, podemos ouvir que não temos coração. Se formos coração, dirão que somos moles. Se formos rápidas demais, podemos ser fáceis. Se dissermos não, podemos apanhar ou sermos mortas…
Exagero? Pois é… costumamos ser taxadas de exageradas, mas no Brasil, que ocupa o quinto lugar no ranking mundial de violência, ao menos doze mulheres são mortas por dia pelo simples fato de serem mulheres ou mulheres trans. Sim, segundo o mapa da violência do IPEA, a cada duas horas uma mulher é vítima de feminicídio em nosso país. Além disso, todos os anos ocorrem 822 mil casos de estupros no Brasil, fora os tantos casos que não são denunciados por medo de que algo pior aconteça. A maior parte desses estupros acontecem com meninas e jovens de até 20 anos e geralmente essa violência parte de homens conhecidos, como o vizinho ou o amigo da família, o tio, o avô, o padrasto, o padrinho ou até mesmo o pai.
Além da violência física e sexual, sofremos também violência moral e psicológica. Podem ser violências menos incivilizadas, mas nos custam muito… Quantas vezes somos interrompidas em nossa fala por nossos colegas (manterrupting)? Quantas vezes nossas ideias são tomadas por outros como se deles fossem (bropriating)? Quantas vezes os homens explicam o que acabamos de falar, como se precisássemos de intérprete (mansplaining)? E quantas vezes nos fazem nos sentirmos culpadas mesmo que a culpa esteja à quilômetros de distância de nós (gaslighting)?
Precisamos, então, ainda hoje, lutar por uma sociedade antimachista, por um novo sistema que quebre a estrutura patriarcal que tomamos por normal e que não é normal, tampouco aceitável! Uma sociedade saudável é uma sociedade justa, em que todas as pessoas tenham direitos iguais, independentemente de sua cor, de seu credo, do seu gênero. Uma sociedade saudável é uma sociedade em que homens e mulheres e pessoas trans recebam o mesmo salário ao desempenharem as mesmas tarefas, que possam ocupar os mesmos espaços de trabalho e que tenham o direito de brilhar da mesma forma.
Convido, então, a todas e todos, a se engajarem nessa campanha permanente POR UMA EDUCAÇÃO ANTIMACHISTA; por uma educação que dignifique as mulheres, e que não as objetifique; por uma educação que respeite e valorize a vida feminina, a existência, seus corpos, suas mentes, seus desejos, suas potencialidades, sua forma de ser, de se vestir, de se expressar no mundo.
No meu mundo ideal, chegaremos em um dia que nada disso precise mais ser falado, porque tudo isso será óbvio.
Mas, enquanto isso não acontece, seguimos lutando, seguimos educando, seguimos caindo e se levantando, seguimos chorando e sorrindo e comemorando cada pequena conquista e cada momento como este do mês de março, mês da mulher, em que a ADUFRGS-Sindical promove eventos muito especiais com o desejo de construir uma sociedade mais justa e mais feliz.
Venha conosco! Vista essa camiseta!
Artigo: Ana Boff de Godoy, vice-presidente da ADUFRGS-Sindical