Nova reitora da UFRGS concede entrevista exclusiva para a ADUFRGS-Sindical 

Foto: Gustavo Diehl/UFRGS Arquivo

Marcia Barbosa foi nomeada no Diário Oficial desta terça para gestão 2024-2028

Foi publicada, nesta terça-feira, dia 17 de setembro, no Diário Oficial da União (DOU), a nomeação da professora Marcia Barbosa para o cargo de reitora da UFRGS a partir de 22 de setembro para mandato até 2028. Conforme a universidade, a lista tríplice definida pelo Conselho Universitário da UFRGS foi encaminhada ao Ministério da Educação em 19 de julho. A ADUFRGS-Sindical conversou com a reitora nomeada, que explicou que o trabalho começa já no domingo, 22 de setembro, e a posse “festiva” deve acontecer no dia 27, em reunião do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CEPE) e do Conselho Universitário (CONSUN), enquanto a de Brasília ainda não tem data marcada. A reitora afirmou que esta deve ser uma gestão “ativa” e “presente” e que irá buscar melhorias em fluxos e recursos junto ao Governo Federal, Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAUFRGS) e também por meio de emendas, assim como devem ser estimulados projetos inovadores para garantir novas formas de recursos e assim resolver os problemas existentes. Confira a seguir.

Em primeiro lugar, parabéns, reitora, agora já com a nomeação publicada, já tem a data da posse, quais são os primeiros passos? 

Eu já começo a trabalhar no domingo mesmo, porque a portaria, esse novo modelo que o MEC está adotando, já dá início à atividade. A posse em Brasília, eles esperam um tempo até juntar vários reitores e reitoras e fazem a posse formal, vamos dizer assim, em Brasília. Mas a posse que eu chamaria de festiva, nós vamos fazer aqui no dia 27 de setembro, no Salão de Atos, em uma sessão do CEPE e do CONSUN, na qual nós vamos apresentar todo o pessoal, os reitores, vamos apresentar a equipe para a comunidade. Mas, domingo, eu até tenho que habilitar projetos, a gente precisa ter uma celeridade, e aí o pessoal aqui já está me indicando que eu tenho que começar a trabalhar domingo mesmo. 

Com a equipe montada, nós estamos num bom momento. A gente conseguiu trabalhar bastante nesses dois meses, e conseguimos ter a equipe já “azeitada”. Tivemos uma excelente transição. Se alguma coisa que a gente pode dizer do Carlos André [Bulhões], é que ele viabilizou que todos os setores da reitoria conversassem com a gente. Então, já nos apropriamos das rotinas, do trabalho, então assim, vai ser uma transição que tem muita tranquilidade para ser feita.

Reitora, não sei se a senhora chegou a ver online, ou circulando uma edição nossa, do nosso jornal ADverso, visitamos no início do ano várias unidades, antes mesmo da enchente, mas que já tinham alguns problemas de infiltrações, mostrando as condições que estão em muitos prédios da UFRGS que não condizem com os rankings em que a universidade aparece como a melhor universidade, com a sua excelência. A senhora tem já alguma ideia, algum plano para melhorar essas condições que são não só de trabalho para os professores, como para alunos, funcionários, comunidade, até para pesquisa mesmo, porque muitas foram afetadas, naquele caso lá em janeiro, quando falharam os geradores.

E, de modo geral, para recursos orçamentários, que volta e meia tem contingenciamentos, bloqueios, qual é o seu plano?

São dois temas distintos. O primeiro tema diz respeito à superintendência de infraestrutura que não tem dado conta de realizar os reparos necessários. E o nosso diagnóstico é de que isso é uma combinação de fatores. A falta de um fluxo adequado é um deles, o que significa que é feita a solicitação da obra, precisa um acompanhamento com esses fluxos, da compra de materiais, e nós vamos trabalhar isso, que não é uma coisa rápida de fazer.

Mas nós vamos trabalhar para criar esses fluxos dentro da administração, de maneira que quando faltar uma lâmpada, a gente já tenha a lâmpada adquirida. Então, esse é um foco muito importante para nós, que vai ser a articulação entre a Pró-Reitoria de Planejamento, que precisa dar conta dessas compras, que permitam ter os materiais. Há também a implementação do almoxarifado virtual, que é um projeto que já existia, mas que sofreu alguns, vamos dizer, percalços por causa da procuradoria e da Superintendência de Infraestrutura, que vai ter que receber uma camada de tecnologia para poder funcionar melhor. Então, isso é um aspecto que a gente vai trabalhar, não é rápido. Implementando isso, pelo menos a gente garante os fluxos dos pedidos e todo mundo poderá acompanhar, saber onde está o seu pedido, coisa que hoje em dia não se sabe. 

O segundo elemento dessa equação é a questão dos contingenciamentos. Eu vou dizer assim: a falta de reparo na UFRGS, segundo a nossa análise, tem menos a ver com falta de recursos do que falta de fluxos. Mas nós estamos vivendo um momento de contingenciamento, e no final do ano isso se agrava, porque chega o final do ano você não pode realmente gastar. 

Então, nós estamos acelerando a busca de novas formas de recursos. Essa gestão vai buscar recursos para excepcionalidades, como a emenda formal parlamentar, vamos insistir com recursos do Governo Federal, por exemplo, existem três PACs [Programa de Aceleração do Crescimento] que estão parados no MEC [Ministério da Educação], e que nós vamos tentar, com todas as forças, trazê-los ainda esse ano para execução.

Não é simples, porque o final do ano é curto, o dinheiro “desaparece” em novembro, mas nós vamos viabilizar para que, ao executar PAC, emenda parlamentar, que são grandes obras, a gente tenha recursos para as obras que não são grandes. E nós vamos ter uma conversa muito séria com a fundação da nossa FAURGS, porque existem recursos lá que são da UFRGS, e esses recursos precisam ser usados para a nossa infraestrutura. Para, tanto terminar alguns prédios que estão inacabados, como fortalecer a nossa infraestrutura.

E essa vai ser uma, vamos dizer assim, uma gestão que vai ser ativa, no sentido da utilização de recursos que são da UFRGS e que estão na FAURGS, para agilizar a utilização desses recursos para a recomposição da nossa infraestrutura. 

Dentro da infraestrutura, existem gargalos muito grandes, como o Campus do Vale, onde nós temos parte da infraestrutura ruim, problema dos tetos, problema das coberturas, que além do dinheiro, precisa de projetos inovadores. E para isso, nós vamos utilizar o nosso corpo docente, corpo discente, com esse instrumento maravilhoso que é a curricularização da extensão, para trazer projetos como da Faculdade de Arquitetura e da Escola de Engenharia.

A partir de identificar projetos criativos, a gente abre a licitação para trazer empresas do mundo privado para fazer a execução. Mas simplesmente jogar o problema e vir com uma execução, vamos dizer assim, mais do mesmo, que é o que as empresas tentam nos empurrar, enquanto a gente pode ter soluções mais criativas, mais econômicas e de mais longo prazo, elas são fundamentais. 

De novo, nós vamos precisar de um tempo para fazer essas coisas, não vai ser em uma semana que a gente vai resolver, mas isso tudo vai ser dialogado com a comunidade, porque o diálogo voltou, vamos estar com as portas abertas, conversar com as direções, ir nas reuniões do Conselho Universitário, do CEPE, então vamos estar presentes nas formaturas. Esta presença, ela é fundamental. 

A senhora mencionou ali do Campus Vale, nós estivemos lá numa época antes ainda da enchente, e até felizmente lá não foi tanto caso, mas por volume de chuva mesmo, mas não de alagamento. Mas outro lugar que é crônico e aí tem problema tanto de infiltração, como de espaço físico, pela demanda ao longo dos anos, é o Instituto de Artes. Teria algum planejamento em relação a isso? 

Assim, no longo prazo, nós vamos ter uma conversa muito forte com a comunidade, mas o plano original de destinação da UFRGS é a transferência de parte das instalações do Instituto de Artes aqui para o Instituto, no Centro, onde era a antiga Medicina. Esse vai ser um objeto importante, mas também, dito isso, a recuperação de parte do prédio do Instituto de Artes também é fundamental. E para isso teremos que buscar recursos, porque não está dentro ainda do orçamento, possivelmente um recurso de emenda parlamentar.

Quem é a reitora

Marcia Cristina Bernardes Barbosa é professora titular no Instituto de Física da UFRGS e pesquisadora nível 1A do CNPq. Foi diretora do Instituto de Física por dois mandatos (de 2008 a 2016). É membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia Mundial de Ciências (TWAS), além de membro e/ou conselheira de diversas organizações, tais como American Physical Society, Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), Conselho Consultivo da Finep, Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência e Comitê de Gênero da The World Academy of Sciences.

Em 2023, assumiu como secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Tem experiência na área de Física, com ênfase em Física da Matéria Condensada, atuando principalmente em água e no uso de suas anomalias para processos físicos e biológicos. Pelo estudo das anomalias da água ganhou o Prêmio L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência (Ciências  Físicas) e o Prêmio Claudia em Ciência, ambos em 2013.

Em paralelo, atua em questões de gênero, pelo que ganhou a Medalha Nicholson da American Physical Society em 2009. Por sua atuação pela pós-graduação ganhou o Prêmio Anísio Teixeira da Capes em 2016, e por seu trabalho em prol da ciência recebeu em 2018 da Presidência da República a Medalha do Mérito Científico como Comendadora e, em 2021, a Medalha Sílvio Torres da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).