Ato foi marcado para 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos
A ADUFRGS-Sindical participou, nesta terça-feira, 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, do ato de instituição da Comissão da Memória e da Verdade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), representada por seu presidente, professor Jairo Bolter.
O dirigente sindical destacou a importância do trabalho da comissão, assim como da liberdade para que ela possa cumprir a sua missão e elucidar fatos do passado. “Essa comissão certamente trará informações muito importantes para a comunidade em geral. Essa é uma comissão que, conforme vocês vão ver na sequência, tem muitos desafios. O desafio central de passar a limpo muitas coisas que aconteceram ao entorno dessa instituição de ensino, mas também aqui dentro. Então, nós esperamos que essa comissão tenha toda a liberdade, tenha todas as condições para que possa exercer o seu trabalho sem ser pressionada por elementos externos e que a gente, finalmente, saiba muitas coisas que ainda não estão claras para nós em relação aos fatos que aconteceram”, assinalou Bolter.
A Comissão da Memória e da Verdade “Enrique Serra Padrós” tem por objetivos reunir, organizar e disponibilizar registros relativos às violações dos direitos humanos ocorridos na Universidade entre 1964 e 1988. Professor do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da UFRGS, Padrós dedicou sua trajetória acadêmica à pesquisa sobre regimes autoritários na América Latina.
Foram empossados como integrantes da Comissão: Roberta Camineiro Baggio, professora da Faculdade de Direito e coordenadora-geral; Lorena Holzmann, professora aposentada do Departamento de Sociologia do IFCH e vice-coordenadora; Carla Simone Rodeghero, professora do Departamento de História do IFCH; Cristina Carvalho, professora aposentada da Escola de Administração; Dóris Bittencourt Almeida, professora da Faculdade de Educação; Frederico Bartz, técnico administrativo da Faculdade de Arquitetura; Letícia Wickert Fernandes, graduanda do curso de Arquivologia da Fabico; Maria Conceição Lopes Fontoura, técnica administrativa da Faculdade de Educação; e Regina Célia Lima Xavier, professora do Departamento de História do IFCH.
Lorena Holzmann falou sobre o trabalho do grupo e também sobre a coragem para lançar, ainda no período da ditadura, a obra “Universidade e Repressão: Os Expurgos na UFRGS”, iniciativa da ADUFRGS da qual foi organizadora, além de ser filiada, ex-diretora e fundadora da entidade.
“O que aconteceu com os professores já é conhecido, porque foram também atos oficiais publicados em toda a imprensa, em diários oficiais, etc., que foi a cassação de professores, isso está registrado. Mas é importante aprofundar a investigação do que aconteceu no dia a dia em relação aos estudantes, que foram presos, o que aconteceu com eles quando voltaram às aulas, se houve alguma punição, se houve cerceamento de liberdade, o que aconteceu com os servidores. Houve servidores que foram punidos, que foram também perseguidos. Isso é importante que seja investigado hoje, depois de 40, 50, 60 anos de prisão”, disse a professora. “O livro, a publicação dos expurgos, foi começado no início de 1979, em plena ditadura militar, muito antes da anistia. Eu acho que a gente era na época muito jovem, muito destemido sei lá, talvez não se pensasse muito nas consequências, porque houve dentro da universidade uma reação muito grande, e depois também a publicação dos livros que aconteceu num evento importante na Assembleia Legislativa”, recordou Lorena.
No ato de instituição da comissão, a reitora da UFRGS, Marcia Barbosa, abordou a fragilidade da democracia e a recente tentativa de golpe no País. “Nossa democracia é muito frágil. Trazer a memória de quem lutou tanto por ela é um resgate fundamental, mas, acima de tudo, é o ambiente sólido sobre como nos estabelecer nosso futuro. Não podemos relaxar. Não podemos achar que conquistamos todos os nossos direitos. Num piscar de olhos, poderíamos ter perdido a democracia nas manifestações golpistas”, alertou a reitora.
Já empossada como coordenadora-geral, a professora Roberta Camineiro Baggio, da Faculdade de Direito, salientou sobre o alcance das perseguições durante a ditadura, que foram além dos prejuízos pessoais. “O relatório esclarece que além das perseguições, prisões e expurgos, o objetivo era interferir na estrutura de organização dessas instituições e no conteúdo. E assim foram atingidas gerações inteiras de estudantes que passaram pelas instituições de ensino superior sem poder alcançar o verdadeiro desiderato de uma universidade, o acesso universal ao ensino calcado na liberdade de pensamento de cátedra”, relatou.
Sobre “as mazelas da ditadura”, recordou que “uma cifra de pelo menos 40 professores expurgados e muitos estudantes e técnicos perseguidos”. “O Estado, que deveria ter os protegido, perseguiu, expulsou, expurgou, matou. Espalhou medo e impediu o livre desenvolvimento de nossas universidades”, emendou Roberta.
A professora encerrou lembrando a missão do grupo, no sentido de ajudar “na enorme tarefa de estabelecer as pontes necessárias entre o passado e o presente, para que a democracia possa ser um valor inequívoco celebrado pelas outras gerações, mas também e principalmente para agradecer, homenagear e lembrar sempre àqueles que lutaram, resistiram e nos venderam solidariedade e esperança”, finalizou a coordenadora-geral.
A cerimônia encerrou com os depoimentos de Carlos Gallo, presidente da Comissão da Verdade da Universidade Federal de Pelotas (UFPel); Paulo Tomás Fiori, filho do ex-professor expurgado da UFRGS Ernani Maria Fiori; e Suzana Guerra Albornoz, esposa do ex-professor expurgado da UFRGS Ernildo Stein.
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