Por uma Educação Diversa: ADUFRGS-Sindical destaca Dia da Visibilidade Trans

Data é celebrada desde 2004 e representa um marco histórico de resistência do movimento transgênero no Brasil

A ADUFRGS-Sindical destaca, neste 29 de janeiro, o Dia da Visibilidade Trans, como parte de sua luta Por uma Educação Diversa. Para falar mais sobre o tema, o Sindicato conversou com o professor Sondre Schneck, do curso de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que recentemente integrou a delegação para o 1º Encontro Sindical LGBTQIAPN+ em Curitiba, e que terá a segunda edição no mês de junho, em Porto Alegre, na sede da ADUFRGS (veja mais aqui). 

O professor falou sobre a importância de pensar o Dia da Visibilidade Trans e de fazer uma relação com o campo acadêmico. “Eu penso que é importante pensar, em primeiro lugar, que a universidade é um lugar que deve dar acesso a todas as pessoas, assim como proporcionar a maior diversidade possível. Deve ter as ações afirmativas que permitam o ingresso no ensino superior àquelas pessoas historicamente com menos acesso, para que possam fazê-lo de modo diferenciado”, exemplificou.

Schneck citou a política de reserva de vagas como uma das formas de promover esse acesso. “Várias universidades já possuem a reserva de vagas para pessoas transexuais e travestis nos seus processos seletivos. Especificamente, a UFRGS possui, atualmente, nos seus editais para pós-graduação, essa política de ações afirmativas no ingresso na pós-graduação, e existe, então, todo um processo em que as pessoas podem aplicar nesse segmento”, relatou o professor, que falou sobre a necessidade de estar em diferentes lugares. “Uma outra questão importante é que nós, como docentes na universidade, possamos também ocupar esses lugares de ensino, de produção de conhecimento e também de gestão, assim como de todas as interações que a universidade faz por meio de todos os projetos de extensão”, completou. 

O professor abordou projetos de extensão existentes na universidade. “Podemos citar o ‘Transitando no Esporte’, o projeto ‘Vocalizando’, do grupo da Fonoaudiologia. Nós temos atividades na pós-graduação que vão trabalhar também a atividade de pós-graduandos, em relação a atividades de extensão. Nós temos também a nossa participação no Ambulatório Trans, aqui no município de Porto Alegre, por meio de docentes que também trabalham ali, nas diversas áreas da saúde, mas também nós temos uma série de produções científicas que são tanto produzidas por pessoas trans e travestis, como também por pessoas, tanto também pelos demais pesquisadores, e isso é muito importante”, disse o docente.

As dificuldades enfrentadas pelas pessoas trans foram outro tema abordado pelo professor. “É preciso ressaltar que as pessoas trans e travestis também têm enfrentado historicamente todas as dificuldades, desde a aceitação na própria família e no ingresso no ensino, seja no ensino básico, no ensino fundamental, no ensino médio, há uma história de muita evasão escolar e uma série de dificuldades, enfim, de finalizar esses estudos. E as ações afirmativas também precisam compreender que esses são motivos para haver esses processos de reserva de vagas em relação ao ingresso para a graduação”, justificou.

Schneck relatou ainda que no caso da UFRGS há uma comissão especial do Conselho Universitário (Consun), que integra como conselheiro, que conta com outras pessoas trans com representação paritária de estudantes, técnicos e docentes, atualmente trabalhando na reformulação da legislação existente. “Não só a UFRGS, várias outras universidades no Brasil já têm esse processo de ingresso para pessoas trans e travestis, que se estende também ao ensino dos institutos federais e outras universidades. Se engajar nesse processo é muito importante”, acrescentou. 

A violência foi outro ponto de atenção apontado pelo professor, considerando toda a sua amplitude. “Ao pensar no Dia da Visibilidade Trans, não há como deixar de lembrar que é a população que tem uma interação muito ruim com o campo das violências. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis. Então, o enfrentamento institucional ao preconceito e estigma para pessoas trans também é uma luta que, de modo institucional, as universidades devem ter. E toda a visibilidade trans tem que ser pensada segundo critérios de interseccionalidade. Então, é dizer que precisa-se também pensar que estamos falando de outros fatores que interagem para pensar essas dificuldades de acesso e de violência, que são as interações entre as questões de raça, cor, etnia, classe social e localização geográfica, que também podem atingir de modo mais específico pessoas negras, pessoas trans negras, pessoas trans pobres ou moradoras de regiões periféricas”, alertou Schneck.

Conforme o professor, a ideia é pensar e dar visibilidade também a “formas de agir, de pensar, de expressar a própria sexualidade e os próprios talentos”, para que também a visibilidade trans transforme num conjunto de potências, “seja na arte, cultura, educação, no campo da saúde, no campo das ciências e então compor esse dia que é uma celebração, mas é também um dia de reflexão”. 

Schneck recordou que a ADUFRGS-Sindical conta com uma base ampla, que além da UFRGS inclui a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e institutos federais – atualmente são 11 municípios (Alvorada, Bento Gonçalves, Canoas, Caxias do Sul, Charqueadas, Farroupilha, Feliz, Sapucaia do Sul, Tramandaí, Osório e Viamão), além de Porto Alegre. “Está em curso uma articulação com outros colegas para pensar a atuação dos direitos da população LGBT em conjunto com o GT Direitos Humanos do PROIFES, e a ADUFRGS também pretende iniciar um GT para pensar as questões da atuação docente, da carreira docente e os aspectos da população LGBT”, comentou o professor, já chamando colegas a participar do 2º Encontro Sindical LGBTQIAPN+, que será realizado este ano no Sindicato. 

Origem da data

O Dia Nacional da Visibilidade Trans é celebrado em 29 de janeiro desde 2004. A data representa um marco histórico de resistência do movimento transgênero no Brasil, quando, pela primeira vez, travestis e transexuais se reuniram no Congresso Nacional para reivindicar respeito e reconhecimento.

Dados

Em 2024, 105 pessoas trans foram mortas no Brasil. Foram 14 casos a menos que em 2023, mas o país segue, pelo 17º ano consecutivo, como o que mais mata pessoas trans no mundo. Os dados são do dossiê “Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024: da Expectativa de Morte a um Olhar para a Presença Viva de Estudantes Trans na Educação Básica Brasileira”, da Rede Trans Brasil.

A região Nordeste, com 38% dos casos, é a que mais registra mortes de pessoas trans desde 2022, seguida pela região Sudeste, com 33% dos assassinatos, e Centro-Oeste, com 12,6% das mortes. Região Norte com 9,7% e Sul com 4,9% dos casos. 

O dossiê também analisou o respeito dos meios de comunicação aos nomes das vítimas. No ano passado, 93,3% dos casos foram respeitados e 6,7% trataram as vítimas pelo chamado nome morto, ou seja, o nome pelo qual a pessoa era chamada antes da transição de gênero.