Caco Barcellos abre o Seminário de Comunicação Sindical da ADUFRGS em parceria com o Portal Sul 21

O jornalista defendeu a informação e a verdade na condução das reportagens.

A arte de contar histórias reais e ser a ponte de informação com a sociedade foram destaques na fala do jornalista e repórter Caco Barcellos, que abriu o primeiro dia do Seminário de Comunicação Sindical promovido pela ADUFRGS-Sindical em parceria com o Portal Sul 21, na noite de quinta-feira (24/04). Ele abordou o tema “Estratégias de comunicação, os desafios do jornalismo do futuro no mercado tomado por comunicadores digitais.

A saudação de boas-vindas foi feita pela diretora de Comunicação da ADUFRGS-Sindical, Ana karin Nunes, pelo presidente Jairo Bolter e pelo editor sócio do Portal Sul 21, Luís Eduardo Gomes.

O evento reuniu profissionais e estudantes da área da comunicação e sindicalistas, que lotaram o auditório do Sindicato.

Antes da palestra, o jornalista e repórter Caco Barcellos conversou com a equipe de reportagem da ADUFRGS-Sindical.

Caco, a sua palestra tem um tema bem amplo, que são as estratégias e os desafios do jornalismo futuro no mercado tomado por comunicadores digitais. Como você vê o jornalismo futuro?

Os principais desafios não são diferentes daqueles que sempre tivemos, desde a idade da pedra. No jornalismo, o conjunto da obra é radicalmente dependente da base, que é a do gênero, a reportagem, que é o exercício da captação da informação.

Então, desde antes de existir o vídeo e outro tipo de mídia impressa, sobretudo quanto mais para trás a gente voltar, mais a gente vai dar relevância ao ato do registro instantâneo de uma história.

As pessoas, às vezes, viajavam a pé, os chamados mensageiros, para contar a história numa outra comunidade, talvez a 400 quilômetros de onde ele partiu, e provavelmente 5, 6 meses para chegar.

Mas, de qualquer maneira, o ato era muito parecido. Registra um fato de uma comunidade para contar para outra que não sabe da história.

E hoje acho que não é muito diferente com toda a tecnologia em volta da gente, quando eu digo que está presente no exercício do jornalismo, todo tipo de função dentro do jornalismo é dependente da coisa mais primitiva, que é a captação da informação no local dos acontecimentos. Ainda é um ato insubstituível.

A gente está cercado de tecnologias incríveis que facilitaram muito o nosso exercício profissional, mas qualquer avanço tecnológico conhecido até hoje, pelo menos, inclusa a inteligência artificial, ela não faz o registro de algo original, apenas repete.

Na sua opinião, a inteligência artificial é uma ameaça?

Não. A inteligência artificial é relevante para a construção de conteúdos originais. A IA é excelente e nos ajuda muito no exercício profissional, do tipo que se falava há uns 10 anos do Ctrl-C, Ctrl-V. Ela é veloz na arte de acumular o conhecimento alheio, mas não capta o original.

O computador, o robô, mesmo que seja muito alimentado pela inteligência artificial, o novo não tem como buscar.

As novas tecnologias distribuem com facilidade as fake news. Como combater o impacto desse tipo de informação?

Eu voltaria de novo aos séculos passados, que são coisas atualíssimas. Continuo achando que o registro, ou seja, ir atrás de algo original é a melhor arma para combater a notícia mentirosa. Nem chamo de fake news, porque são palavras estrangeiras. Prefiro a nossa linguagem. Empresas contadoras de mentira, que criam estruturas para mentir. Agora, essa mentira, ela não é produzida no local dos acontecimentos. Seriam surrados, linchados.

São produzidas às escondidas, atrás de um computador, atrás de robôs, atrás de empresas e parafernálias tecnológicas, as high-techs mentirosas. Elas são ainda produções clandestinas e, sobretudo, escondidas.

Eu acho que a arma que a gente tem, eu digo a gente, repórteres profissionais, jornalistas profissionais, nossa principal ferramenta é a verdade. No meu programa de reportagem na TV, a gente dá enorme importância ao bastidor, porque lá mostra como eu estou captando.

Se existe um incêndio incrível, de grande proporção, a gente está lá no meio, correndo risco de vida, com fogo quase pegando no nosso rosto, cheio de suor e sujo, imundo, porque a gente dá importância a quem está assistindo.

Talvez a pessoa que estiver assistindo a minha reportagem mostrando que eu estou lá mesmo, talvez vá se informar também. O meu concorrente será aquele que talvez esteja a 7 mil quilômetros desse incêndio. Ele saberá tão bem quanto a gente que está em cima dos acontecimentos daquele episódio? Claro que não.

Pode ter inteligência artificial, pode ter o que tiver. Se não tiver lá, vai ter que copiar de alguém que está lá. E quem está lá é o gênero reportagem. É poder ter essa oportunidade também de aprofundar essa notícia também.

A partir da história que a gente registra, quando a gente está lá, vamos aprender com as pessoas que estão lá. Essa oportunidade pode ser muito rica em conhecimento que a gente vai adquirir para transmitir.

O importante é quem está lá envolvido no acontecimento. A gente é um mero transporte de quem tem conhecimento para quem não tem. Somos uma ponte. Mas eu acho que é uma ponte, hoje necessária, porque há quem use a ponte para mentir.

O jornalista vai perder realmente esse espaço para um profissional que não tem formação e atua nas mídias sociais? Como fica a universidade?

Eu acho que a academia é uma maravilha para a gente exercer melhor o nosso trabalho. Mas eu considero também a academia da natureza, a academia dos esforços de cada um, muito relevante. Se eu não estiver na academia, eu posso também me informar muito bem.

Então não tenho nada contra esse acesso livre que as redes sociais oferecem. Acho que pode ser muito produtivo e muito legal. É uma facilidade, uma democracia de acesso à informação de qualidade na pesquisa e como plataforma, que a gente tem acesso livre e pode reproduzir o nosso conhecimento.

Eu acho que pode ser muito positivo para a sociedade. O problema são as pessoas que acessam para mentir. Eles são nossos inimigos, e sobretudo inimigos da sociedade.

Antes de fazer um trabalho, eu gosto de me informar ao máximo, leio todos os livros possíveis, mas essa leitura não vai significar que eu estou habilitado para contar bem uma história. O essencial é a pessoa que eu vou conhecer que está envolvida naquela história. Se eu estiver bem preparado, eu vou fazer o melhor juízo daquela história que eu estou registrando.

Que tipo de estratégia pode ser traçada para avançarmos na comunicação sindical?

Quando se trata de comunicação, as regras são as mesmas. Eu tinha que fazer um concurso para contratar um novo repórter e a menina que venceu o concurso é daqui do Rio Grande do Sul. Ela contou que decidiu ser jornalista a partir de uma experiência na rua onde morava, numa zona rural de Santa Maria, um lugarejo bem simplório. Nas duas esquinas, tinham duas famílias conhecidas dela, e uma família perdeu uma criança, acho que de 2 anos de idade, por subnutrição infantil. Viviam numa casinha de madeira simples, tudo clássico da nossa realidade gaúcha.

E na outra ponta, vivia uma outra família muito simples, que produzia também casas semelhantes de madeira, bonitinha, com pátio. E essa família produzia para o sustento, plantava cenoura, alface, criava uns bichinhos de criação, uma galinha, por exemplo, um ovo.

A Pastoral da Criança inverteu essa realidade da subnutrição infantil, dando farelo de casca de ovo para as crianças sobrenutridas e salvou muitas vidas.

Ao saber disso, a menina despertou o interesse em ser repórter. Ela disse: Se eu levasse o conhecimento que está nessa esquina da produção de galinha, poderia ter salvado a vida daquela família que tem tudo igual, mas não sabia disso.

A função do jornalista é essa, do repórter, é você levar o conhecimento de quem tem para quem não tem. Fazer essa ponte.

Eu acho que para qualquer natureza de comunicação, o nosso sindical também são nossos aliados, são nossos representantes, que vão nos abastecer de informação que eu não tenho, para cuidar melhor da nossa profissão.

Fotos: Carol Negreiro.

O Seminário de Comunicação Sindical segue nesta sexta-feira (25/04).

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