Mulheres Trabalhadoras da CUT-RS querem ser ouvidas, conforme apontou o Encontro Estadual do qual a ADUFRGS-Sindical participou no dia 20 de maio. A diretoria foi representada pela diretora de Assuntos de Aposentadoria e Previdência, Mariliz Gutterres. A professora Graciela Maria Ryna Quijano, que integra o Conselho de Representantes como aposentada, também participou do evento, que contou com mais de 90 participantes no auditório do SindBancários no Centro Histórico de Porto Alegre.
“Tivemos uma grande escuta das mulheres, de trabalho remunerado ou não, e construímos juntas uma pauta que vamos levar ao 16º Congresso Estadual da CUT-RS (CECUT), a ser realizado nos dias 4 e 5 de agosto, para que sejamos ouvidas nos territórios, nas entidades sindicais, nas lutas, nas negociações coletivas e nos espaços de poder e decisão”, afirmou a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-RS, Mara Weber, que coordenou o encontro.
Escutar as mulheres
Trabalhadoras de diversos ramos e categorias, do campo e da cidade, dos setores público e privado, da Capital e do Interior, representando a diversidade no Estado, foram chegando, encontrando-se pela primeira vez de forma presencial após o início da longa pandemia. Também participaram mulheres do projeto CUT com a Comunidade, trazendo os olhares do trabalho e das lutas na periferia da capital gaúcha.
Antes da abertura do evento, as mulheres foram acolhidas com um café e muitos abraços. Depois, elas se deram as mãos e participaram alegremente de uma mística com danças circulares no Salão de Festas do Sindicato. Depois seguiram até o auditório, onde as cadeiras foram posicionadas de forma diferente, para que as mulheres se enxergassem melhor.
A secretária-geral da CUT-RS, Vitalina Gonçalves, a Vita, abriu o encontro, destacando a necessidade de “escutar as mulheres e nos escutarmos, para que possamos, a partir da nossa fala e de uma escuta atenta, caridosa e carinhosa, fazer os registros e encaminhar com mais certeza a nossa luta de emancipação e a nossa luta de abrir os espaços e garantir paridade de fato na CUT e no restante da sociedade”.
Ela destacou as diferentes mulheres que vieram participar do encontro. “Essa pluralidade é que nos faz mais fortes na CUT. Que possamos sair daqui cada vez mais fortalecidas, na certeza de que, enquanto não tivermos uma sociedade radicalizada feminista, não teremos igualdade e justiça social”, apontou Vita. “Mulheres nos espaços de poder, sim, com poder de decisão.”
O encontro contou também com participação de dirigentes da Executiva da CUT-RS – Maria Helena Oliveira, Eleandra Koch, Isis Garcia, Silvana Piroli e Doris Nogueira – e de várias federações e sindicatos filiados.
O trabalho na vida das mulheres
A economista Lúcia Garcia, que trabalha há 32 anos no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), fez uma exposição sobre “o trabalho na vida das mulheres”. Ao invés de apresentar números e gráficos, ela refletiu sobre o conceito de trabalho e a crise da sociedade capitalista.
Ela frisou que “é preciso ir além dos limites do mercado de trabalho”, destacando que “trabalho é toda ação humana que gera sobrevivência”. Ou seja, “trabalho é tudo o que a gente faz e nós trabalhamos sempre. Trabalho não é somente o que eu faço na metalurgia ou na refinaria. É o ovo que eu frito, é a criança que eu cuido, é o pai e a mãe que eu cuido, é estar tricotando, é estar na horta, é estar fazendo absolutamente tudo”, explicou.
Lúcia salientou os formatos do trabalho: os afazeres domésticos, os cuidados, os trabalhos voluntários (no sindicato, na associação, no partido, na igreja), os trabalhos de autoprodução (quando se produz algo que a pessoa ou a família irão consumir).
Segundo ela, só um trabalho realizado para o mercado ou para alguém a troco de dinheiro, que gera renda, “é o único que infelizmente dá cidadania. Todos os outros trabalhos são invisibilizados”.
A especialista comparou a sociedade capitalista a um iceberg. “Há uma ação orquestrada para olhar apenas o que está acima da linha do oceano para enxergar somente uma parte da sociedade”, disse, observando que “muitas vezes esse discurso copta lideranças populares e sindicais”.
Conforme Lucia, “a economia capitalista só funciona crescendo”, frisando que, quando isso não acontece, entra em crise. Ela alertou que “está aumentando o tempo de trabalho não pago”.
“A única saída é coletiva. O que fazer e como fazer? Nós temos que saber para onde chegar. Vamos debater”, concluiu a economista.
Assista aqui.
Grupos de trabalho apontam propostas das mulheres
Após a exposição, as mulheres se reuniram em grupos de trabalho por macrossetor, como indústria, comércio e serviços, transporte, serviço público, saúde e agricultura familiar, setor financeiro e educação, e mais as companheiras do projeto CUT com a Comunidade, onde elas tiveram espaço para falar e escutar.
Na retomada do encontro, depois do intervalo para almoço, elas apresentaram as conclusões dos grupos, que apontaram questões como assédio sexual e moral no trabalho, nos sindicatos e na sociedade, machismo estrutural e sobrecarga de trabalho, dentre outras.
As mulheres apontaram várias propostas do que fazer e como fazer para mudar o mundo do trabalho pela voz e visão das mulheres, como combate ao assédio e à violência, equidade de gênero, valorização do trabalho, revogação do Novo Ensino Médio, educação de qualidade, defesa do SUS, direito ao lazer e muita formação para que as mulheres possam reconhecer e nomear as diversas opressões que sofrem no seu dia-a-dia.
Todas as propostas serão sistematizadas para envio à Executiva da CUT-RS e posterior encaminhamento para debate no 16º CECUT.
Marcha das Margaridas
A representante da Marcha Mundial de Mulheres, Maria do Carmo, reforçou a mobilização para a Marcha das Margaridas 2023. O evento acontece a cada quatro anos e este ano será realizado nos dias 14 e 15 de agosto, em Brasília, pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver.
Participação no 16º CECUT
Ao final, foi reforçada a importância da participação das mulheres no 16º CECUT. O prazo para a realização de assembleias dos sindicatos filiados para a eleição de delegadas e delegados vai até o próximo dia 25 de junho.
O quórum mínimo para os sindicatos elegerem delegadas e delegados nas assembleias é de 20 pessoas. Todas as orientações já foram enviadas pela CUT-RS para as entidades.
O 16º CECUT acontece em 4 e 5 de agosto, no Teatro Barone da Assembleia Legislativa, no Centro Histórico de Porto Alegre. O encontro antecede o 14º Congresso Nacional da CUT (CONCUT), que será realizado de 19 a 22 de outubro, em São Paulo.
Mara anunciou ainda que os 60 mil exemplares do gibi das mulheres – Mexeu com uma, mexeu com todas – foram todos distribuídos, especialmente nas atividades de 8 de Março. O material foi produzido pela CUT-RS e impresso em parceria com vários sindicatos e federações. Uma nova tiragem está sendo planejada.
Fonte/fotos: Mateus Piccini/CUT-RS