Reunião apontou estagnação das matrículas, desigualdade no acesso e falta de diálogo do governo estadual; entidades propõem construir propostas para o Fórum Nacional do Trabalho.
Representantes da CUT-RS, da ADUFRGS-Sindical, do Sinpro-RS, do CPERS, do Sintec-RS, da escola Mesquita, do Instituto Integrar e do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Região participaram de uma reunião com o superintendente regional do Trabalho e Emprego no Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo, para debater a situação e os desafios da educação técnica e profissional no estado. O encontro também contou com a exposição do professor e pesquisador Gabriel Grabowski, que apresentou dados e reflexões sobre o tema.
Durante a reunião, Claudir Nespolo destacou a importância de construir uma ação articulada entre o movimento sindical e o Ministério do Trabalho, com base em diagnósticos compartilhados e propostas conjuntas:
“O momento exige que a gente some informações, alinhe visões e formule uma intervenção comum sobre o tema, aproveitando as oportunidades que estão surgindo. Daqui pode sair, inclusive, uma proposta para o Fórum Nacional do Trabalho, com a possibilidade de uma resolução tripartite sobre a educação profissional”, afirmou Nespolo.
Segundo o superintendente, o objetivo é que o debate ultrapasse o âmbito das secretarias estaduais e chegue ao âmbito federal, com a possibilidade de formulação de políticas públicas mais consistentes e integradas às demandas reais do mundo do trabalho.
Educação técnica estagnada e desigualdade no acesso
O professor Gabriel apresentou um panorama da educação técnica no Brasil e no Rio Grande do Sul. De acordo com os dados apresentados, apenas 8% dos estudantes do ensino médio no país estão matriculados em cursos técnicos, enquanto a média nos países da OCDE é de 32%.
Ele ressaltou que o Brasil ainda possui um grande número de jovens com potencial para a formação profissional — cerca de 47 milhões de estudantes na educação básica, sendo 2,3 milhões apenas no Rio Grande do Sul. No entanto, a falta de investimento, o fechamento de escolas e a estagnação das matrículas no ensino médio têm comprometido a expansão da educação técnica.
“Temos um grande contingente de jovens que o país não está sabendo conquistar. No Rio Grande do Sul, muitas escolas técnicas estão sendo esvaziadas, especialmente as da área rural. É preciso ampliar as formações, diversificar os cursos e garantir uma política com continuidade e seriedade”, explicou Gabriel.
Ele também alertou que o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelecia a meta de triplicar as matrículas em cursos técnicos até 2024, mas o país alcançou apenas 49,6% desse objetivo. Mesmo com a ampliação dos Institutos Federais, a oferta ainda é insuficiente e concentrada, com predominância da rede privada.
Críticas à política estadual de ensino técnico
As entidades presentes manifestaram preocupação com a forma como o governo do Estado do Rio Grande do Sul vem conduzindo a política de ensino técnico, apontando falta de transparência, improviso e ausência de diálogo com professores e trabalhadores.
“As escolas sequer sabem como serão implementados os novos cursos técnicos, quem vai ministrar as aulas ou qual será o conteúdo. O que se vê é mais uma maquiagem dos números da educação estadual, sem consistência e sem compromisso com a qualidade”, criticou Gabriel.
Os sindicatos também destacaram a necessidade de garantir formação técnica pública e de qualidade, voltada para o desenvolvimento regional e para o fortalecimento da indústria e dos serviços locais, com participação efetiva dos trabalhadores na formulação das políticas.
Próximos passos
A reunião encaminhou a elaboração de um documento conjunto entre o Ministério do Trabalho e as entidades sindicais, com propostas para o Fórum Nacional do Trabalho, que deve debater, entre outros temas, o papel da educação profissional na inclusão produtiva e no combate à precarização do trabalho juvenil.
Fonte: CUT-RS