“Universidades precisam se preparar para garantir a segurança das pesquisas de ponta”, afirma Bolter.
A falta de energia por mais de 30 horas no Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul destruiu pesquisas científicas e trouxe um prejuízo de milhões. Na Faculdade de Agronomia, o apagão provocou a morte de plantas nas casas de vegetação e, nas áreas dedicadas à zootecnia, frangos e peixes não resistiram. Projetos de pesquisa, trabalhos de mestrado, doutorado, pós-doutorado e iniciação cientifica foram interrompidos.
O apagão foi causado por uma ruptura de cabos na subestação Porto Alegre 6, administrada pela CPFL Energia terceirizada da CEEE Equatorial, na segunda-feira, 12. A energia foi normalizada na terça-feira, 13, mas teve nova queda de luz na quarta-feira, 14.
Após o incidente, a administração da UFRGS adotou medidas internas de ativação de geradores instalados em seu campus. Agora, quem irá se responsabilizar pelos prejuízos na ciência? O que a Administração Central da Universidade está fazendo para cobrar as responsabilidades sobre o ocorrido?
De acordo com o presidente da ADUFRGS-Sindical, Jairo Bolter, a Equatorial tem problemas sim e responsabilidade pelo ocorrido, no entanto, as Instituições Federais de Ensino Superior também precisam se prevenir para possíveis catástrofes. “No ano passado vivemos três ciclones. Recentemente um vendaval atingiu a cidade que ficou no escuro, por ineficiência administrativa da empresa de Energia, a Equatorial e por falta de compromisso político dos administradores públicos que se desfizeram da nossa empresa pública de energia, a CEEE. Diante desta situação novas catástrofes poderão ocorrer e gerar problemas para a nossa Universidade, que precisa garantir que as nossas riquezas sejam protegidas. É inadmissível que pesquisas de ponta fiquem a mercê, sem os cuidados e as garantias mínimas para o bom funcionamento. A sociedade brasileira, a nossa universidade, a ciência como um todo perdem. Ou seja, todos perdem com isso”, declarou.
ADUFRGS-Sindical anunciou os problemas
Uma semana antes do apagão, a ADUFRGS-Sindical em sua série de denúncias nas redes sociais sobre a falta de infraestrutura nas unidades da UFRGS alertou sobre as condições precárias, a falta de manutenção e de investimentos que poderiam colocar em risco as pesquisas científicas. Inclusive, o Sindicato vai cobrar da Reitoria que ela busque o ressarcimento dos prejuízos que a comunidade acadêmica teve com o apagão.
Na primeira visita da série no Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos (ICTA), no Campus do Vale, dia 30 de janeiro, as professoras Florencia Cladera Olivera, diretora da unidade, Juliane Elisa Welke, vice-diretora, e o gerente Administrativo do ICTA, Cherllen Araújo, haviam alertado sobre os problemas de infraestrutura.
Foram relatadas a falta de plano de contingência e de orientações para casos de emergência climática, além da necessidade de treinamentos, em especial com relação a segurança e primeiros-socorros. “Falta ambulância, ambulatório e farmácia no campus”, comentou Florencia, recordando que a situação piorou quando começou a pandemia.
Conforme as gestoras, está em andamento a elaboração e aprovação de Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI) para a unidade, que atualmente possui boa manutenção própria, mas faltam funcionários para garantir a conservação.
Um exemplo foram os problemas de impermeabilização, resolvidos internamente. “Várias salas alagavam, mas conseguimos resolver, pois alagava várias salas”, relatou a diretora. Ela acrescentou que o subsolo ainda sofre com alagamentos, prejudicando auditório, laboratórios e salas de aula, inviabilizando aulas. Um grande fator de preocupação é o alto investimento em equipamentos presentes nesses laboratórios, assim como em pesquisa, e ainda há a questão da segurança das pessoas. Quem visita o local percebe logo o forte cheiro de umidade no subsolo, e há relatos de problemas respiratórios.
O ICTA conta com portaria e um sistema de 32 câmeras, porém nem todas estão em funcionamento, e a catraca está sendo controlada visualmente, pois a mudança de sistema inviabilizou financeiramente a sua manutenção.
O objetivo da diretoria do Sindicato com a série de visitas nas UFRGS é conferir as condições de infraestrutura e segurança, em especial após os últimos temporais, ouvindo os professores sobre as necessidades e carências em relação à administração central. Os resultados serão reunidos em matéria especial na próxima edição do Jornal ADverso.