Ainda que haja um aumento de escolaridade de docentes no país, o cenário não é bom para o futuro da educação.
Jairo Bolter (*)
Houve uma época em que vivi num país onde a educação era prioridade do Estado. Vi de perto quando o ensino deu um salto de qualidade e começou a construir um caminho de oportunidades e de futuro para todos. Do acesso à creche até a pós-graduação, passando pela escola em tempo integral, as mudanças foram marcantes: revolução no ensino profissional e tecnológico, expansão e interiorização das universidades federais, entrada dos jovens de baixa renda no ensino superior, as cotas que coloriram as melhores universidades do País.
Estou falando do ensino no Brasil. Uma época em que a educação passou a ser uma ferramenta de combate às desigualdades e motor do desenvolvimento. O que antes era gasto tornou-se investimento. Ainda assim, há de reconhecer que apesar dos rumos das políticas educacionais trazerem esperança, os índices de aprendizagem dos alunos apontados pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) já estavam aquém do desejado.
Infelizmente, o Brasil passou pelo que chamo de “trevas”, onde os responsáveis pela educação brasileira tinham como guru e conselheiro um filósofo de estimação que imputava às Universidades espaços de balbúrdias e promovia constante perseguições aos professores. A educação deixou de ser prioridade e hoje colhemos a falta de qualidade e a falta de interesse pela educação. Faltam professores e uma significativa evasão escolar por parte dos jovens.
Ainda que haja um aumento de escolaridade de docentes no país, o cenário não é bom para o futuro. Jornadas exaustivas, salários baixos e exposição a situações de conflito e perigo atuam negativamente na escolha dos jovens para a carreira de professor.
Aqui no Rio Grande do Sul, em 16 anos, o número de professores efetivos no magistério estadual teve queda significativa. No período, o quadro passou de 74.163 matrículas, em 2006, para 31.309 em 2022, ou seja, uma queda de 57,7%. É o que mostra o 3º Observatório da Educação Pública no Rio Grande do Sul.
Dados revelam que a educação faz a diferença ao aumentar as chances de empregabilidade e oferecer melhores salários. A evasão escolar traz graves consequências para os alunos, pois leva a problemas socioemocionais, como o barateamento da mão de obra, comprometimento cognitivo, intelectual e cultural. E também para a sociedade, pois intensifica e amplia as desigualdades sociais.
Precisamos refazer o caminho, refazer o processo de motivação à educação. Hoje temos uma nova esperança de retomar a pujança do sistema educacional brasileiro, que incide em inclusão social, geração de oportunidades, trabalho, emprego e renda. Mas, para isso, para além do discurso, os Governos Federal, Estadual e dos Municípios devem dar a devida valorização aos professores, com melhores salários, condições de trabalho e infraestrutura da creche à universidade. Para que a docência seja uma carreira atrativa.
É um dever de todos nós, da sociedade civil, que acreditamos numa sociedade mais justa, fraterna e igualitária, e que acreditamos no real potencial de desenvolvimento do Brasil, das Regiões e Municípios, defender fortemente que, num período de curto, médio e longo prazo, sejam realizados investimentos para a reestruturação da educação brasileira, da creche ao ensino superior.
(*) Presidente da ADUFRGS-Sindical
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