Após dois meses e críticas do governo, instituições federais seguem em greve; entenda situação no RS

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, na segunda-feira (10), que não vê razão para a duração da paralisação e fez apelo pelo encerramento da mobilização; no Estado, a adesão foi baixa

Com quase dois meses de greve, a mobilização das universidades e institutos federais tem preocupado o governo federal. De acordo com aliados ouvidos pelo Estadão, a avaliação é de que o movimento grevista gera desgastes para o Planalto. Os professores de 54 das 69 universidades federais brasileiras seguem em greve. Docentes de cinco institutos federais (IFs) e três Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs) se somam à paralisação.

Já foram feitas sete rodadas de negociação com o setor de educação, que engloba, além dos docentes, os servidores técnico-administrativos. Mas não houve consenso entre os docentes e o governo federal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta segunda-feira (10), que não vê razão para a duração da greve, e fez apelo pelo encerramento da mobilização.

Em maio, o governo chegou a fechar acordo com um dos sindicatos envolvido, a Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes), mas não conseguiu debelar o movimento.

A greve tem ainda a participação do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN); o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe); e a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra). Todos esses rejeitaram a proposta governamental.

Situação no RS
No Rio Grande do Sul, embora tenha tido baixa adesão, a paralisação atingiu algumas instituições de ensino. Nesta segunda-feira (10), a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) passou a participar do movimento. Foi deliberada a deflagração da greve em assembleia no dia 4 de junho, realizada pelo Sindicato dos Docentes da Universidade Federal da Fronteira Sul (Sinduffs).

“A Reitoria reconhece a legitimidade das reivindicações da categoria e reitera que manterá diálogo respeitoso com o Sindicato e com o Comando Local de Greve, além de acompanhar com atenção as negociações”, diz a nota enviada pela reitoria para a reportagem de GZH.

Segundo o comunicado, o calendário acadêmico está mantido, com as aulas presenciais, bem como outras atividades previamente programadas, “possíveis de serem realizadas no presente contexto”. A greve também segue na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), com adesão de professores e técnicos.

Quanto ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), a greve acontece de maneira diversa entre os campi. Conforme o pró-reitor de Ensino, Fábio Azambuja Marçal, atualmente, dos 17 campi, oito estão com o calendário suspenso em virtude da greve. As demais unidades, incluindo a Reitoria, estão funcionando, mas não de maneira plena, pois nestas também existem servidores em greve. Alguns projetos de ensino, pesquisa e extensão estão acontecendo como atividade essencial.

A Adufrgs-Sindical, que representa profissionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), optou por não aderir à greve e segue com o mesmo posicionamento. As universidades federais de Pelotas (UFPel) e de Santa Maria (UFSM) foram contatadas pela reportagem de GZH, mas não responderam aos questionamentos até a última atualização matéria.

Propostas do governo
Nesta segunda-feira (10), Lula anunciou recursos para tentar aplacar as reivindicações. Em cerimônia no Planalto, o presidente e o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciaram investimentos para as universidades federais no âmbito do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e para o orçamento de custeio das instituições federais.

A recomposição do orçamento é uma das reivindicações grevistas. Em seu discurso, Lula questionou a demora da greve e disse que as propostas feitas pelo governo não são recusáveis. O governo estuda investir em soluções que não dependam diretamente de recursos, como a revisão de portarias e a estruturação da carreira, para tentar pôr fim à greve.

A avaliação é de que, nesse momento, é preciso avançar principalmente nas negociações com técnicos-administrativos, o que poderia resolver o impasse e finalizar a greve. O governo tem dito que chegou ao limite financeiro para ceder aos grevistas. Está em análise a possibilidade de reduzir o tempo para chegar no topo da carreira dos técnicos, de 24 anos para 18.

Outra possibilidade em estudo é propor a revisão da portaria 983, editada durante o governo Jair Bolsonaro. O texto é criticado pelos docentes por ampliar a carga horária semanal de professores dos institutos federais. Esse tópico é uma das pautas de reivindicação da greve.

A última proposta do governo não prevê reajuste em 2024, propõe 9% de aumento em janeiro de 2025 e 5,16% em maio de 2026. Os servidores rejeitaram a proposta e pedem recomposição das perdas salariais, com reajuste de 3,69% em agosto de 2024.

Instituições que seguem em greve
Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
Universidade Federal do Cariri (UFCA)
Universidade de Brasília (UnB)
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Universidade Federal do Pará (UFPA)
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa)
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
Universidade Federal de Roraima (UFRR)
Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Universidade Federal de Catalão (UFCAT)
Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB)
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Universidade Federal de Tocantins (UFT)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE)
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Universidade Federal do ABC (UFABC)
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Universidade Federal de Campina Grande – Campus Cajazeiras (UFCG-Cajazeiras)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)
Universidade Federal do Acre (UFAC)
Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR)
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Universidade Federal do Sergipe (UFS)
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Universidade Federal de Rondonópolis (UFR)
Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
IFs:

Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) – Campus Pouso Alegre, Campus Poços de Caldas e Campus Passos
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS)
Instituto Federal do Piauí (IFPI) SINDIFPI 60 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste-MG (IF Sudeste-MG) – Campus Juiz de Fora, Campus Santos Dumont e Campus Muriaé
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul) – Campus Visconde da Graça
CEFETs:

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)

Acesse aqui a publicação original em GZH.