“As instituições têm que estar à serviço de quem as paga, e no Brasil está ocorrendo o contrário”, diz autor do livro/filme “O Complô”, em pré-lançamento na ADUFRGS-Sindical

Na quinta-feira, 15, Dia Internacional da Democracia, a ADUFRGS-Sindical sediou o pré-lançamento do filme “O Complô”, documentário dirigido por Luiz Alberto Cassol a partir do livro homônimo do deputado constituinte Hermes Zaneti. A atividade envolveu exibição do filme e debate, transmitido ao vivo pelo Facebook e Canal da ADUFRGS no YouTube (assista aqui). Na ocasião, o autor do livro destacou que “as instituições têm que estar à serviço de quem as paga, e no Brasil está ocorrendo o contrário”.

O evento, realizado no auditório José Fraga Fachel, na sede da ADUFRGS, foi voltado para convidados – imprensa, críticos de cinema e entidades sindicais apoiadoras, devido à lotação do auditório.

Baseado no livro “O Complô – Como o Sistema Financeiro e seus Agentes Políticos Sequestraram a Economia Brasileira”, o curta-metragem é um documentário que questiona as formas de exploração do sistema financeiro na sociedade. A ideia central da obra é fazer com que a população reflita sobre a política econômica do Executivo, que favorece as elites financeiras e onera os trabalhadores/as, que convivem com a falta de investimentos em saúde, educação, além de carestia e baixos salários.

Hermes Zaneti relatou que deixou de ser deputado por ameaças, mas que “há 35 anos luta para mostrar ao povo brasileiro que é escravo do rentismo”. “Somos uma sociedade produtiva a serviço do sistema financeiro”, lamentou. 

Conforme Zaneti, o livro nasceu de uma conversa com três professores da Universidade de Brasília, que coordenavam um programa de apoio a uma grande central sindical do Brasil e o indicaram para uma conferência em São Paulo. “O evento teve um impacto muito importante, me disseram que o assunto não podia ficar assim, tinha que virar um livro”, contou. 

O autor destacou ainda a preocupação com a documentação para cada afirmação. “Queria um livro incontestável e ao mesmo tempo que fosse um libelo acusatório sobre o que está ocorrendo com nosso País”, descreveu. 

Zaneti contou que o livro foi lançado em 2017, na Feira do Livro de Porto Alegre. Mais adiante é que veio o filme. Ao ser convidado para falar para economistas, acabou mais uma vez estimulado a levar o assunto a ainda mais pessoas, desta vez como filme. E aí começou a busca por financiamento, que encontrou apoio na ADUFRGS-Sindical e PROIFES-Federação, além de uma série de sindicatos que foram somando ao projeto, como CPERS-Sindicato e Sinpro/RS, entre outros. O autor lembrou que a dívida pública é um tabu, e que a população não sabe o que paga, daí a importância de debater sobre o tema.

O diretor Beto Cassol abordou a relação do filme com o momento político atual. “É uma escolha entre civilização ou barbárie. E ele vem ao encontro deste debate, de trazer à tona a questão da dívida pública, do porque ela existe, e trazer essa discussão para o bojo da sociedade”, disse Cassol. “O que nós pagamos? Qual nossa responsabilidade? Mas também a ideia é entender o que é a dívida externa e a dívida interna, sendo um pouco pedagógicos para que o assunto se torne mais do cotidiano das pessoas, mais palatável, para que as pessoas entendam do que se trata e como isso as afeta no dia a dia”, explicou.

Cassol também chamou a atenção para o simbolismo do apoio dos sindicatos ao documentário. “Nós temos vários sindicatos que apoiaram, entraram de forma cabal no filme, e demonstra que é um tema que precisava ser tratado”, relatou. 

O diretor falou também sobre os próximos passos do filme. “É um tema inédito no Brasil, pelo menos nos projetos autorais. É um documentário necessário, e a trajetória agora são as pré-estreias nos sindicatos apoiadores e depois os festivais e abertura para o público em diferentes plataformas”, adiantou. A intenção é de que as apresentações sejam também acessíveis aos diferentes públicos.

Para Cassol, o tema “não é conhecido por 99% da população, mas sim pelos sindicatos”, explicando que optaram por ser “didáticos”. “Essa geração vai saber o motivo de pagar juros”, disse com esperança o diretor, convidando a todos para que provoquem discussões e divulguem o filme. 

Durante o debate, integrado por Zaneti, Cassol, o economista Carlos Paiva, e Renato Oliveira, sociólogo e ex-presidente da ADUFRGS-Sindical, com mediação do também ex-presidente da entidade e secretário do PROIFES-Federação, Lúcio Vieira, foi ampliada a discussão sobre a dívida pública. 

“É um livro-denúncia de um momento histórico”, afirmou o mediador, que chamou a atenção para o momento de renovação permitido pelas eleições que estão chegando. Ele recordou também que os recém comemorados 200 anos da Independência remontam o início da dívida. “Quando foi proclamada a Independência, já estávamos endividados. Nascemos independentes, mas endividados”, ponderou Vieira, ao que o economista Carlos Paiva acrescentou que relata que a dívida portuguesa com a Inglaterra ficou com os brasileiros. 

“O Brasil é prisioneiro do sistema financeiro”, disse Paiva, que comentou ainda que o “sistema” não é só o bancário, e que há um interesse maior por financiamentos e juros no país em vez de pagamentos à vista, “porque teria que dar desconto”.

O sociólogo Renato Oliveira abordou o pacto Constituinte que deveria existir em torno da resolução dos problemas do País. “As esquerdas brasileiras formaram-se mobilizando-se a partir dos interesses da época: melhores salários, empregos e liberdade de organização sindical. Esses temas não estavam na ‘agenda’, eles entraram por meio da esquerda nesse sistema do ‘centrão’. Desde que a qualidade de vida da maioria fosse contemplada, se aceitaria esse pacto. Mas ele vem sendo erodido”, criticou. “O SUS é um grande representante desse pacto e o centrão vem desconstruindo”, complementou Oliveira. Para o sociólogo, o filme está chegando no momento necessário, mesmo que seja numa democracia com problemas, mas que ainda é melhor que os outros regimes. 

Paiva reforçou a afirmação de que a dívida está sendo paga para o governo e que há uma destruição do Estado. Comentou processos de privatização e manobras para evitar a continuidade da esquerda. “Para inviabilizar que a esquerda consiga resolver os problemas sociais”, complementou.

Beto Cassol lembrou que grandes corporações de Comunicação também se beneficiam do sistema, e que economia não é algo discutido nas escolas, e Zaneti acrescentou que “todas as grandes corporações vivem do rentismo”. “O Complô diz quem fez isso [dívida] no Brasil. Mostra que as grandes corporações justificam e de apoiam entre si”, disse o autor. “As instituições têm que estar à serviço de quem as paga, e no Brasil está ocorrendo o contrário”, finalizou.

Vieira disse que todos temos a responsabilidade de mudar o País, fazendo um chamado à participação nas eleições, e o evento foi encerrado com um vídeo da campanha “Votar É Sua Força”, iniciativa da ADUFRGS-Sindical pelo voto a favor de quem defende a educação pública e a ciência (clique aqui para saber mais sobre a campanha).

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