O contexto histórico das relações entre empregador e empregado no País norteou o debate do Encontro com aposentados da ADUFRGS-Sindical, realizado na tarde de 18 de novembro, com transmissão ao vivo pelo YouTube e Facebook. Com o tema “O Trabalho pede socorro”, a live contou com a contribuição da professora aposentada Lorena Holzman, do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A mediação foi feita pela professora da Escola de Administração da UFRGS, Julice Salvagni. O evento virtual é promovido pelo Núcleo de Multiatividades do Sindicato, coordenado pelo professor Otto Koler.
Na abertura, a diretora de Comunicação da ADUFRGS-Sindical, Sônia Mara Ogiba, fez uma saudação especial em nome da diretoria do sindicato aos participantes e espectadores da live. “É uma grande satisfação realizarmos mais um Encontro com aposentados em parceria com o Núcleo de Multiatividades, trazendo um tema por demais apropriado para o momento e que nos toca diretamente, o trabalho. Com esse título instigante “O trabalho pede socorro” certamente o enfoque perpassará pelo mundo pandêmico no qual observamos uma intensificação do trabalho docente, a precarização das condições de trabalho e o adoecimento, e isto nos preocupa muito como sindicato de professores. Estamos no segundo ano de uma forte crise sanitária e econômica que vem se refletindo no mundo do trabalho”, salientou. “É uma honra receber a professora Lorena, uma colega de trabalho a qual tenho grande admiração por já ter trabalhado ao seu lado na década de 90, época em que ela foi pró-reitora de Graduação da UFRGS”, manifestou a professora.
O professor Otto comentou sobre a substituição da mão de obra dos trabalhadores por máquinas. “Vejo o crescente aumento do desemprego no meio rural. O trabalho dos produtores de arroz, soja, milho e trigo foi substituído por máquinas, tirando o sustento de milhares de famílias do campo. Isso é preocupante!”, sinalizou.
Para a mediadora Julice, o neoliberalismo tem agravado a precarização do trabalho. “As pessoas trabalham em condições aceleradas, insalubres, doentias e inseguras. Tal conjuntura sugere a urgente demanda por ações coletivas capazes de promover espaços justos e decentes aos que vivem do trabalho”, destacou.
Ao contextualizar o tema da live, a professora Lorena fez um apanhado histórico do mundo do trabalho desde o processo de escravização até o período após abolição da escravatura, quando se estabeleceu o mercado de trabalho sem nenhuma proteção aos trabalhadores. “A partir da abolição, a classe trabalhadora era autônoma, sem a intervenção do Estado. Mas foi em 1930, com a Era Vargas que o Estado se tornou intervencionista nas relações entre capital e trabalho”, mencionou. “Com a consolidação das Leis Trabalhistas, o sindicato cumpriu o papel de órgão de colaboração entre trabalhadores e empregadores. O imposto sindical foi a forma de sustentação das entidades sindicais para defenderem os direitos dos trabalhadores”, acrescentou.
De acordo com Lorena, as relações de trabalho no Brasil caracterizam-se pela informalidade. “A economia neoliberal cria mecanismos de precarização das condições de trabalho e das formas de contratação. Trabalhos temporários, intermitentes, terceirização, uberização do trabalho e empreendedorismo estão entre as práticas dessa política, que não garante ganhos e direitos”, ressaltou.
A professora aposentada também falou sobre a terceirização da educação e a crise do mercado de trabalho. “Os docentes de universidades públicas correm o risco de serem substituídos por professores contratados precariamente por empresas privadas terceirizadas”, alertou. “A reforma trabalhista de 2019 retirou cerca de 200 artigos relacionados com a organização sindical.”
Lorena encerrou sua explanação apontando desafios para o próximo período. “Temos hoje mais de 14 milhões de desempregados no Brasil, que aceitariam qualquer tipo de trabalho precário para sobreviver. O fim do Imposto Sindical e o fim da gratuidade na justiça para os trabalhadores também são agravantes”, considerou. “A única saída para superar os problemas sociais, econômicos e sociais no País é a luta coletiva. Precisamos fortalecer as organizações sindicais para defesa de nossos direitos e conquistas. É preciso filiar mais pessoas. Outra questão fundamental é a derrota da Reforma Administrativa que desmonta os serviços públicos e destrói nossos direitos”, reforçou.