Para marcar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher (veja mais aqui), celebrado em todo o mundo em 25 de novembro, a ADUFRGS-Sindical conversou com a professora Fátima Silva, vice-presidenta da Internacional da Educação para América Latina (IEAL) e membro da Rede de Mulheres Trabalhadoras em Educação da América Latina (RED). Instituída pela ONU em 1999, a data tem o intuito de denunciar as múltiplas formas de violências contra as mulheres.
Conforme a professora Fátima Silva, a realidade exige que se mantenha a mobilização em datas como essa. “Infelizmente, ainda é necessário, assim como é preciso políticas de Estado, um processo educacional com base no respeito às diferenças e à equidade e igualdade de gênero”, explicou a professora. “É preciso também que as mulheres passem a ocupar mais postos de poder, de comando, estar em todos os espaços, público e privado”, refletiu.
Fátima Silva também lembrou que a violência sexista não é apenas física, e que envolve não sentir medo de ir e vir. “As cidades precisam pensar em espaços públicos para homens e mulheres, onde elas não sintam medo”, afirmou a professora, acrescentando ser preciso uma mudança de comportamento.
Pandemia e aumento da violência
A pandemia de Covid-19 registrou aumento nos índices de violência contra a mulher. Sobre essa realidade, a professora chamou a atenção para um triste dado: “Na pandemia se confirmou a estatística de que o lar nem sempre é o lugar mais seguro para as mulheres”, lamentou. “No caso da violência contra a mulher, seja de qual tipo for, física ou psicológica, ela sofre em dobro, porque muitas vezes vem de uma pessoa que ela ama”, descreveu Fátima.
Fragilidade do Estado
O machismo dominante e a não aceitação de negativas por parte das mulheres, somado à “fragilidade dos organismos de Estado”, que não consegue garantir a segurança das vítimas, mesmo em casos de medidas protetivas já expedidas, estão entre as causas dos altos números de casos de violência de gênero, para a professora Fátima.
Resistência feminista
A professora Fátima relatou que a realidade exige resistência por parte das mulheres, e que ela existe. “Há um grande movimento feminista de mulheres para que elas possam ser donas do seu corpo, do seu voto, e saiam do espaço privado para o espaço público, lutando por salários iguais para trabalhos iguais, saúde social e reprodutiva, e tudo isso demanda de políticas públicas”, exemplificou.
O atual governo, conforme Fátima, tem uma política de retrocesso, que faz a mulher “voltar para o espaço privado”. “A América Latina elegeu nos últimos anos pelo menos três mulheres pela via democrática, ocupou muito espaço público”, disse a professora, reforçando que não é possível retroceder. “O governo atual, o ministério da [ministra] Damares [Alves], representa um retrocesso, está baseado em uma matriz conservadora e religiosa que não serve a ninguém”, disse a docente. “O estado também nos violenta”, completou.
Educação e empoderamento
A professora Fátima acrescentou que a educação é responsável por mudar a realidade de violência de muitas crianças e jovens mulheres, por meio do empoderamento. “Temos que trabalhar o empoderamento das nossas meninas. Quanto mais elas estudam, mais empoderadas”, apontou.
Segundo Fátima, mais estudo, menos violência, pois a educação permite o “processo de tomada de consciência”. “Elas passam a ver o homem como parceiro, não como dono, e a não aceitar abusos. A escola ajuda a identificar essas situações”, complementou.
Vida sexual no tempo certo
De acordo com a professora Fátima Silva, na escola, por meio de uma educação sexual integral, com igualdade e equidade de gênero, é possível que meninos e meninas aprendam a considerar o corpo como espaço de respeito, sem que haja antecipação da sexualidade.
“Nos acusam de antecipar a vida sexual, mas o que ocorre é uma orientação para uma vida afetiva e sexual que aconteça no momento exato, evitando abusos, que acontecem inclusive na primeira infância, dentro de casa e dos laços familiares”, disse a professora, lembrando que os casos acontecem em todas as camadas sociais, não só entre as mais populares.
Mariposas contra a ditadura
A origem do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, destacou a professora Fátima, lembra a morte das irmãs Mirabal, nos anos 1960. Conhecidas como “as mariposas” (as borboletas), Minerva, Patria e Maria Teresa eram ativistas na República Dominicana e foram assassinadas pela ditadura do presidente Rafael Leónidas Trujillo.
“É uma homenagem a elas, que foram ousadas, lutaram e pagaram com a vida por isso”, afirmou, reforçando a necessidade de seguir lutando para que as mulheres estejam em todos os espaços e pelo compromisso por nenhum tipo de violência e mais políticas de Estado.
ADUFRGS-Sindical pelo fim da violência de gênero
A ADUFRGS-Sindical está comprometida com o fim de todo tipo de violência de gênero. Para a professora Sônia Mara Ogiba, diretora de Comunicação da ADUFRGS-Sindical e membro do Coletivo Vidas Negras da CUT e no Coletivo Estadual de Mulheres da CUT, ambos pertencentes à Secretaria de Combate ao Racismo e a Secretaria de Formação Sindical, o tema da mulher é sempre um tema de urgência política, em especial quando se refere à violência.
Para Sônia, que faz parte também da Rede de Mulheres Trabalhadoras/RED, “datas como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, que a ADUFRGS-Sindical destaca, visam a conscientização da população que é um dos passos para transformar essa realidade de violências múltiplas contra as mulheres. Mas é também preciso avançar com a definição de políticas públicas pelo Estado”, acrescentou a professora.
Denuncie
A violência contra a mulher aumentou ainda mais durante a pandemia. Em 2020, foram mais de 105 mil denúncias registradas nas plataformas do Ligue 180 e do Disque 100 em todo o Brasil. Veja aqui os dados referentes a 2021 no Rio Grande do Sul.
Denuncie ou peça ajuda pela Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, que faz a acolhida das mulheres que buscam ajuda ao passar por situação de violência, além de registrar e encaminhar denúncias de violência contra a mulher aos órgão competentes.
O serviço Ligue 180 é gratuito e 24h, e também fornece informações sobre direitos da mulher e locais de atendimento mais próximos e apropriados para cada caso, desde Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAM), até centros comunitários e Defensorias Públicas, entre outros.
Acesse aqui o site da Internacional da Educação para América Latina (IEAL)